sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Outono



Nesse dia, foi o primeiro a chegar ao escritório. Logo que entrou, reparou que havia imensas folhas de papel espalhadas pelo chão. A princípio achou estranho, mas depois lembrou-se que o Outono tinha chegado. Sentou-se e começou a trabalhar.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Perspectiva



Desde pequeno que via aquela ilha lá ao longe. Achava-a belíssima, muito melhor que a sua terra. Decidiu então lançar-se à água. As correntes tentavam desvia-lo, mas a sua vontade era mais forte. Nadou enquanto pôde. Apesar da força da mente, o corpo acabou por sucumbir. Sentiu-se desfalecer e ser arrastado para alto mar. Acordou estendido numa praia, rodeado por gente desconhecida. Via agora ao longe a sua casa e nunca esta lhe parecera tão bela.
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Estações



O ar estava impregnado com odores feromonais. A Primavera embriagou-os. Beijaram-se pela primeira vez no pico do Verão e derreteram-se de amores um pelo outro. O Outono veio e desfê-los pouco a pouco. Quando chegou o Inverno, os corações gelaram. Felizmente, a Primavera regressou célere, amena e carregada de flores perfumadas com aromas indescritíveis que os inebriaram novamente.

Vício



Apertou o tubo de borracha encardido e acendeu o isqueiro. A colher ferrugenta fervilhou. O sangue misturou-se com o preparado numa dança demoníaca. Os dentes rangeram quando a agulha rasgou a pele. Os espasmos do corpo davam sinais de que a sede estava, por agora, saciada. Aninhou-se no chão e embotou. Acordou com o choro do bebé que reclamava, também ele, um pouco de atenção.

Anticiclone



Romperam o silêncio com gargalhadas gordas. Riram até cair no chão. Estavam a ponto de perecer quando juntaram os lábios num beijo pungente. Sorveram toda a paixão antes que ela se escapasse. Sabiam que era um estado passageiro. Tinham de aproveitar ao máximo. Sabiam que após a bonança vinha sempre uma tempestade desmedida.

Puzzle



Olhava fixamente o mar como se esperasse alguém. As noites passavam, mas não ninguém aparecia. Quem fosse à praia, podia ver todas as noites aquela figura que se arrastava pela areia, murmurando uma ladainha quase inaudível. Escondi-me atrás de uma duna. Vi que apanhava bocados de madeira de todos os tamanhos e formas. Segui-a até casa. Pela frincha da porta vi que tentava reconstruir um barco no quintal.