terça-feira, 30 de julho de 2013

Bela família


O pai era feio. A mãe era feia. Tiveram uma filha linda de morrer. O funeral foi em Outubro.

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Regresso




Tinha saudades de ouvir as cigarras a cantarem o Verão. Após regressar a casa depois de uma longa ausência, a primeira coisa que fez foi abrir as janelas de par em par para que aquele mantra o pudesse purificar. Deitou-se no sofá e fechou os olhos, só que o coração não lhe dava sossego. Para um homem do mundo era muito estranho voltar a casa e não tardou muito até que os pés o arrastassem de novo para o pó da estrada.
 

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Renascimento


Enquanto à volta tudo ruía, envolveram-se num beijo tão profundo que era como se nada se passasse. Quando os lábios descolaram o mundo em redor parecia ter renascido e eles também.

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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Peso


Ele, que outrora trabalhara por todos, era agora visto como um fardo dos que antes carregava aos ombros. Restava-lhe apenas o desejo de que os arames se quebrassem e o vento o espargisse pela planície e o levasse de volta à terra.www.facebook.com/microcontos

Tempo



Ele chegou todo contente e deu-lhe um presente. Ela ficou muito triste porque o que realmente queria era um futuro.
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Justiça


Quando era adolescente sonhava ser poeta, só que o pai obrigou-o a seguir a linhagem da família e teve de se tornar advogado. Mesmo assim a poesia não o deixava sossegar. Foi deste modo que se especializou em fazer justiça poética.

Recado




Os tempos eram difíceis. Todos gritavam que o fim estava perto e não havia salvação. Mesmo assim ela achava que era a altura certa para se ser feliz. Por isso, seguiu em frente. Se por ventura pelo caminho se cruzasse com o tão horrível destino apregoado, dir-lhe-ia que fosse ter com quem tanto dele falava e que se entendessem. Ela não tinha tempo, tinha de viver.

Demanda


Todas as noites saía para tradicional ronda de Baco. As caras eram-me familiares e as conversas repetidas. Mesmo assim não havia nada que me pusesse o coração a bater mais forte do que a expectativa de encontrar finalmente o homem ideal. As minhas amigas diziam-me que eu procurava o homem certo no sítio errado. Elas podiam estar certas, mas eu sabia que no deserto também nascem flores.
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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Luta

Juntou a sua voz à dos camaradas, aceitou participar na luta e marchar contra os opressores do proletariado. A meio da caminhada, sentiu fome. Dirigiu-se a vários restaurantes e cafés, mas todos eles estavam encerrados. Mas, foi sobretudo a necessidade de usar uma casa de banho que lhe deu a conhecer o verdadeiro significado de greve geral.

Irradiação

Apesar das trevas que a rodeavam, mantinha um sorriso rasgado que iluminava o mais escuro breu. O mundo por vezes trocava-lhe as voltas, mas ela era flexível o suficiente para contornar as curvas mais apertadas. Pontapeava o negrume com o seu riso estridente e seguia em frente. Um dia perguntaram-lhe como conseguia manter o espírito tão elevado quando à sua volta todos estavam mergulhados na depressão. Ela apenas sorriu e todos entenderam a resposta.

Recarregar


Nos momentos de maior tormento e dúvida, corria para o alfarrabista do fundo da rua. Assim que entrava, inalava aquele cheiro a papel antigo e sentia-se imediatamente melhor. Era nas pilhas de livros que ia buscar energia para continuar.

Fim dos dias

Desde há três anos que todos os dias sabiam a sábado, domingo ou feriado. Para António, as folhas do calendário eram todas iguais. Reformado, viúvo, remediado e conformado. Naquela tarde de Outono, sentou-se à mesa, ligou o rádio a pilhas, cortou um naco de pão e um bocado de linguiça. Empurrou tudo com um copo de vinho tinto. Pegou numa corda e acabaram-se os dias.
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Homem

A professora dizia-lhe que ele tinha de fazer os deveres, para aprender a ser um homem. João fechava os olhos e via o pai. O pai não tinha estudos e era um grande homem. Bateram à porta da sala de aula. A professora olhou para a sala e pediu para que todos abraçassem o João. Desde esse dia, João passou a ser o homem da casa.
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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Comoção

Quando entrou na sala, o rádio estava a tocar a sua música favorita. O corpo estremeceu dos pés à cabeça, a pele ficou toda arrepiada e foi varrida por calafrios. Foi até à janela escancarada e fechou-a. Sentia-se agora muito mais aconchegada.
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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Tabuleiro

Tinha à sua frente aquela mulher lindíssima, mas não sabia o que dizer. As palavras atropelavam-se. Não conseguia articular um discurso minimamente interessante. Em adolescente foi campeão de xadrez, mas foi sempre muito fraco no jogo de damas.
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Absolvição

Depois de muitos anos longe de casa, regressou às origens. As rugas contavam por ela tudo o que se passou enquanto esteve fora. Vinha mudada, dizia a mãe. Já não era a mesma, diziam as vizinhas. Mas o pai, apesar do seu silêncio sepulcral, rejubilava por a sua menina estar de volta e concedeu-lhe imediatamente a absolvição de todos os pecados.
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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Final


Em pequeno foi sempre um puto traquina. Ao pé dele nada estava quieto. Corria de manhã à noite, sem descanso. Cresceu e a rebeldia acompanhou-o. Apesar de ter dado aos pais a alegria de ter casado e gerado dois filhos, nunca tranquilizou. Tido como excêntrico, tolo, insensato ou desmesurado, nunca se importou com o que diziam dele. Um dia, subitamente, o coração deixou de bater e para ele nunca chegou o dia do juízo.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Sorte


A lâmina ferrugenta rasgou-lhe a pele e despedaçou-lhe os músculos. O sangue jorrou das veias e ensopou a terra seca. Sentiu o corpo e a alma a tremer. Caiu no chão inanimado. Acordou nos braços de uma mulher vestida de branco. Olhou-a directamente nos olhos e perguntou se ela era um anjo. Ela respondeu que não, mas que se o corte tivesse sido mais profundo, possivelmente seria.

Metades



Era um bom rapaz, amigo dos seus vizinhos, tratava todos com amabilidade e simpatia. Nessa tarde, saiu de casa para ir cortar lenha. Com um machado ao ombro dirigiu-se à floresta. Ao cruzar-se com um vizinho, no momento em que o foi saudar, cortou-lhe uma orelha. No tribunal foi considerado culpado e condenado a oito anos de cadeia, mas o vizinho ouviu quatro.

Altos e baixos


As tábuas de uma cama pequena amontoadas numa pilha grande. Um saco de plástico grande cheio de roupas pequenas. Tudo junto de um caixote do lixo grande. No cemitério, uma campa pequena e lá dentro um pequeno caixão branco tapado por um monte de terra. Nos corações uma dor demasiado grande para ser descrita ou apagada da memória.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Salteador


Como era habitual, saiu de casa bem cedo para ir roubar carteiras nos autocarros. Aproveitando a hora de ponta, aproximou-se sigilosamente de uma rapariga. No momento em que se preparava para lhe surripiar a bolsa, ela virou-se lentamente, olhou-o nos olhos e roubou-lhe o coração.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Exposição

Que palavras eram aquelas? Quem era aquela mulher que tanto falava e que não parava quieta nem um minuto? A princípio detestou tal pessoa, mas aprendeu a gostar dela, a conhecê-la por dentro e a mostrá-lo por fora. Custou-lhe entranhar e, agora ainda mais, a desentranhar aqueles trejeitos. Quando os últimos aplausos se calaram e as luzes se apagaram pela última vez, chorou por saber que nunca mais a veria.
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Tréguas


Não se importava nada de perder esta guerra. Depois de tantas batalhas, era uma bênção que tudo terminasse. Podiam finalmente pôr de lado as armas, despir as armaduras e sair da trincheira. Chegava por fim o armistício.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Uma ideia


Viviam em constante ebulição. Mas quanto mais quentes eram os duelos mais crescia aquele amor revolto. Numa tarde escura de Outono, ele chegou com um sorriso malandro nos lábios, transpirava uma confiança de quem manda no mundo, aproximou-se dela e disse:” Ouve lá, e nos casássemos?” Ela ficou estupefacta. Não sabia o que dizer. Era uma ideia tão perigosa que quase fazia sentido.

A vendedora


Chegava todos os sábados antes do sol nascer. Prendia a burra a uma oliveira, soltava uma lona verde sobre o chão de saibro e abria as sacas de onde se saíam cores e cheiros encantadores. Tinha sempre um sorriso e uma história para contar aos fregueses que paravam para ver, cheirar ou conversar. Até que houve um sábado em que ela não apareceu. E desde então, todos os sábados de manhã o céu aparece pintado por um arco-íris.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Memórias


Olhou o horizonte e tentou acalmar-se. Era para ali que ia sempre que a vida não lhe corria conforme planeado. Apesar de conhecer aquele local melhor que a sua própria casa, nunca tinha reparado em tal pormenor. Naquele dia viu como aquelas colinas eram redondas, lisas e simétricas. E, por muito que se esforçasse não se conseguia lembrar de quando fora a última vez que tinha feito amor com uma mulher.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Relação


Namoravam há dois anos. Conheciam-se melhor do que o caminho para casa. Por vezes discutiam e era ela sempre a que dava o braço a torcer. Nesse dia ele abusou na força e ela teve de andar três semanas com o braço em gesso.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Onirismo


A cama ainda fumegava e o ar estava impregnado pelo odor da tensão dos corpos. Ele dormia profundamente. Ela levantou-se e veio à janela à procura de uma brisa fria que lhe dissesse se tudo fora, ou não, apenas um sonho.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Céu



Saiu com a filha para dar um passeio junto ao mar. Depois de olhar o horizonte por algum tempo, a menina perguntou: “Oh mãe, quando os gatos morrem para onde vão?” A mãe fez uma pausa e respondeu de forma meiga: “Filha, os gatos quando morrem vão para o céu.” A miúda não quis contrariar a mãe, mas ela sabia que se assim fosse o céu estaria cheio de gatos e não de nuvens.

Batalha nocturna


A noite chegava e as ruas da cidade eram tomadas de assalto por exércitos de homens e mulheres em busca de emoções que os transportassem para longe do irremediável quotidiano. Posicionavam-se para a corrida. Cruzavam-se como se uns e outros não existissem. Eram felizes e infelizes, cada um à sua maneira, até que o sol os expulsava. Pela manhã vinham os carros do lixo que lavavam as ruas, recolhiam os sonhos perdidos e reciclavam-nos para a noite seguinte.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Revenda


Em criança que descobriu que tinha muito amor para dar e quando cresceu descobriu que ainda tinha muito mais para vender. Por isso, há dez anos que trabalhava como prostituta.
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Translação


Ele apresentava as suas desculpas, mas estas morriam como ondas na praia. Ela, sentada dentro do carro, evadia-se olhando o vazio. As horas escorriam, deixando-o a ele quase sem palavras e a ela com os ouvidos a abarrotar. O sol, vendo que nada mais podia fazer, partiu em busca de outras almas para iluminar. Quando a lua chegou já o parque de estacionamento estava vazio, mas no vento ainda ecoavam algumas promessas que ali ficaram no chão.
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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sentença

O cigarro bailava-lhe nos lábios, lançando no ar pequenas nuvens. Uma alça caída desvendava um dos seios. Olhou-me directamente nos olhos e pediu para que me aproximasse. Tinha no rosto aquela expressão que anunciava tormenta. Avancei para ela como um condenado. Abraçou-me e deu-me um beijo na face. Tudo começou e acabou sem que eu me desse conta. Passados tantos anos, sempre que o telefone toca, ainda o atendo na ânsia de seja ela a murmurar o meu nome.

Ondas hertzianas


Nos momentos mais infelizes, uma música era tudo o que bastava para lhe incendiar o mundo e dar-lhe a volta ao sorriso. Rodou o botão do rádio vezes sem conta, mas, não encontrou nenhuma melodia que lhe afagasse a alma. Deitou-se na cama e no silêncio da noite escutou o bater de corações por toda a cidade e assim adormeceu.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Equilíbrio


Davam largos passeios pelas zonas mais lúgubres da cidade. Apesar de toda a decadência, era ali que encontravam beleza e amor em estado puro. Inspiravam a tristeza do ar e expiravam alegria para a atmosfera. Foi a forma que encontraram de manter o equilíbrio entre o bem e o mal.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Contas



Sempre preferiu as letras aos números. Escrevia cartas lindíssimas, histórias de encantar e poemas arrebatadores. Mas, na altura de fazer as contas, por mais que tentasse juntar um mais um, nunca conseguia que fossem dois.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Incerteza



Sentiu o corpo nu contra o frio e as pontas afiadas das rochas. Ali ao lado, indiferentes a tudo, as ondas marulhavam numa cadência incerta. A maresia beijava-a e arrepiava-lhe a pele. Levantou-se lentamente, sentiu os músculos entesados e adormecidos. Deu passos morosos e incertos. Ao pisar a areia sentiu-se finalmente a caminho de casa. Não se lembrava como ali chegara, e isso também não importava, não podia mudar o passado, só lhe interessava agora a incerteza do futuro.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal


Ele dirigiu-se para a porta. Ela seguiu-o de perto. Ele vestiu o casaco, ajeitou o cabelo e a gravata, calçou as luvas e, sem se virar para trás, disse: Feliz Natal, até à próxima. Ela respondeu: Nós, as putas, não temos Natal. Por todo o prédio ecoou o estrondo da porta ao fechar-se.
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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Primavera precoce




Indiferentes à borrasca, correram velozes por entre a brancura que envolvia a cidade. Abraçaram-se como se fosse a última oportunidade. A força dos braços foi tal que os ossos ameaçaram estalar. Os lábios fundiram os corpos, transformando-os num só ser. O calor emanado pelos corpos derreteu a neve e nesse ano a Primavera chegou mais cedo.

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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Cheias


Um espesso manto de nevoeiro abateu-se sobre o vale. Os náufragos gritavam dentro da água fria. Na margem, as mulheres choravam, impotentes. As lágrimas engrossaram o rio e este transbordou, trazendo os homens para terra.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Evasão


Enquanto ele olhava fixamente o mar, ela aproximou-se por trás e abraçou-o com o máximo das suas forças. Sentia que a fuga estava a ser planeada. Já que ele ia fugir dali para fora, ao menos que fosse apenas a mente. Guardaria o corpo como recordação da partilha de momentos felizes.
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Liderança


Ela obrigou-nos a trazer tabaco e pistolas antes do amanhecer. Nós sentámo-nos em roda e escutámos toda a sua eloquência. Em voz alta, proclamou que os homens viviam melhor sob o seu jugo. Ao romper da aurora, fomos surpreendidos por uma emboscada e o bando espargiu-se pela charneca. Reunimo-nos de volta no covil e esperámos por ela. Até que chegou a notícia antecipada pelos nossos pesadelos. Abraçámo-nos e sentimos a comunhão da orfandade.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Tempestade


Aos primeiros trovões, as luzes apagaram-se, os cães uivaram, as mulheres rezaram, os homens acenderam as lareiras e os gatos aproveitaram. Um bebé chorou quando uma gota lhe caiu sobre a testa. A mãe não ouviu nada por causa da respiração ofegante do amante.
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domingo, 11 de dezembro de 2011

Migrações


As aulas terminavam e os dias arrastavam-se no vagar do calor. Eles chegavam com a precisão das aves migratórias, traziam histórias e cheiros de outras paragens, mundos para mim desconhecidos. Pelos novos costumes que exibiam, nalguns momentos pareciam quase estrangeiros. Quando partiam deixavam um vazio que era preenchido pelas primeiras chuvas de Outono, eu voltava à escola e ficava a sonhar como seria viver no seu novo país.
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sábado, 10 de dezembro de 2011

Louca

A louca percorria as ruas da cidade empurrando um carro de supermercado carregado de miséria. As crianças escondiam-se em casa à sua passagem, as histórias tenebrosas para os obrigar a comer a sopa, eram mais fortes que a curiosidade de ver de perto tal personagem. Os adultos desviavam o olhar, como que a protegerem-se de um feitiço. Indiferente a tudo o que diziam sobre ela, seguia o seu caminho inabalável, pois, sabia que de entre todos era a única que sabia a verdade.
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Artes


Tinham visto aquela história tanta vez representada nas telas que já a sabiam de memória. Nunca imaginaram é que algum dia fossem eles a estar nos papéis principais. Viam agora que a tarefa não era tão fácil como parecia. Tentaram dizer as falas como os profissionais, soltaram até algumas lágrimas e risos sonoros, só que no final a música não tocou nem apareceram letras a anunciar o final. Recomeçou tudo outra vez.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Valores



Preparou ao milímetro a sua própria morte. Escolheu o fato, a data e a forma como iria abandonar o mundo. Sentou-se à mesa e começou a escrever uma nota de despedida. Subitamente, a porta escancarou-se com um pontapé e um homem empunhando uma arma ameaçou mata-lo se não lhe entregasse todo o dinheiro. O assaltante obrigou-o a escolher entre o dinheiro e a vida. Com uma calma invulgar, ofereceu-lhe todo o dinheiro, pois à vida não dava já qualquer valor.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Bela família



O pai era feio. A mãe era feia. Tiveram uma filha linda de morrer. O funeral foi em Outubro.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Desenlace



A seara ondulava, loura e delicada como uma princesa nórdica. Salpicada por sobreiros pachorrentos e sóbrios, a paisagem envolvia os dois corpos unidos. O pôr-do-sol tingiu de âmbar aquele quadro e a lua cheia deu os últimos retoques. Um tiro rebentou o silêncio da planície. As aves esvoaçaram aturdidas pelo estrondo e o sangue escorreu pelos campos. Os dois amantes jazeram no chão e foram beijados pelo orvalho até que o sol e os guardas chegaram.